quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A intimidade no coletivo - 10 casos críticos


Todos os dias passo por uma experiência matutina e vespertina no trânsito. Afinal, trabalhador brasileiro que se preze é frequentador assíduo do transporte coletivo. E sempre que estou lá, fazendo minhas 2:30h de ida e 2:30h de volta fico analisando como esse movimento pendular me faz ter tanta intimidade com gente que nunca imaginei ver na vida. Até porque meu colegas passageiros são bem peculiares. Não sei se por conta do trajeto para far far away onde moro ou se isso é comum em todos os ônibus e afins. O que sei é que eles são bem espaçosos. E existem vários estágios de intimidade. Analisei alguns durante esses meus 5 anos de vida assalariada e pude perceber muitos que se repetem e que com certeza você já viveu. Vamos a eles:

Em pé:
No corredor
Não há nada mais aguniante do que ter que dividir seu espaço com 572 pessoas ao mesmo tempo em um pequeno cubículo. Quando você está em pé, está também sujeito a desafiar a Lei de Newton, aquela tal de Forças de Contato que jura que duas pessoas não ocupam o mesmo lugar no espaço. Newton só escreveu isso porque na época dele só se usavam carroças. Se você já passou por isso sabe que é uma situação muito estranha ter que ficar se esfreganto, involuntariamente, no passageiro ao lado, na frente, atrás... E quando vem as curvas então! Não há o que fazer.



Segurando no ferrinho mais próximo
Outra clássica. Muitas pessoas, poucos lugares para se segurar. Me sinto uma macaquinha tentando encontrar um lugar ao sol. Ainda mais com a minha pouca estatura, o que me restam são os ferrinhos de apoio do banco. Aqueles lá de cima? Nem pensar, não alcanço. Aí a intimidade acontece no passa passa de mãos. Quando o buzão chega à sua capacidade máxima, quem conseguir segurar em algum ferrinho é rei. E quando alguém, desprevenidamente, resolve soltar de lá para ajeitar a bolsa ou coçar o olho, ferrou. Uma outra mão enlouquecida chega e pega o seu lugar. E nesse pega pega, solta solta, é que acontece o mão na mão, braço no braço. Até machuca.


Na suvaqueira alheia
Eu sou baixinha e não sei se essa é uma realidade para todos. Mas, quando estou em pé espreitando um lugarzinho sempre chega um colega alto, daqueles que conseguem segurar no ferro de cima e me dão inveja. Mas acontece que ele, esse altão, me faz ter muita intimidade com o seu suvaquinho. Sim, eu fico ali bem embaixo desejando que todas as janelas sempre estejam abertas.





Dividindo os gostos musicais
Dj do ônibus. Tem até campanha para acabar com essa praga. Mesmo assim, a gente sempre encontra um e outro fofo que insiste em mostrar seu gosto musical a qualquer um. E aí a intimidade é imposta, não há o que fazer a não ser que você seja cara de pau e peça pro cidadão desligar o querido mp3. E aí você ouve de tudo, de pagode à funk, uma intimidade só.



Na conversa do Nextel
Sempre há quem queira dividir sua vida pessoal com a gente, por isso o seu lindo rádio da Nextel é muito bem vindo para esse tipo de colaboração sonora. Ele é o mais indicado quando alguém quer fazer você entrar na conversa. Aí tem assunto de tudo, namoro, pagode, balada, falar nada, dar oi, perguntar se está tudo bem. Enfim, uma gama tão extensa de assuntos extremamente necessários que não tem como não prestar atenção em cada detalhe. Esse é o famoso inimigo íntimo.



Sentado:


Dividindo o espaço com pessoas 10 vezes maiores do que você
Pronto, agora você foi um dos felizardos que conseguiu garimpar um lugarzinho para ir cômodo até o final do trajeto. Mas não pense que você está livre dos íntimos mais desconhecidos ever. Eles estão por toda parte. Eis que surge um colega de banco e não, ele não é pequeno nem educado. Ele sempre será o dos maiores. Ombros largos, pernas abertas, bolsas e mochilas pesadas. Por que? Porque ele quer ter você como melhor amigo durante a viagem. Então, prepare-se. A intimidade é extrema. Ele vai abrir ao máximo suas perninhas e fazer com que fiquem bem coladinhas em você. Seu espaço será invadido. Ele vai começar a usar seu corpo como bloqueio nas curvas e não te deixará livre para respirar durante toda a viagem. Aceite, será assim.


O comilão
Quando seu "parceiro" resolve comprar uma deliciosa guloseima no ambulante que não quer incomodar a sua viagem, fique atento. Existem muitos que esquecem as regrinhas sociais e começam a dividir com você todo o barulho da degustação, assim como te dá inconscientemente  alguns pedacinhos do seu doce. Sim, ele deixa cair em você e só resta se limpar e quem sabe, fazer uma carinha de emburrado para ver se ele se toca. Mas não conte com isso, eles nunca se tocam.

Com o dorminhoco
Esse é clássico e não podemos atirar a pedra em ninguém. Afinal, todos nós já fizemos um dia. Inspirados na música "encosta sua cabecinha no meu ombro...", com o balancinho do ônibus pra lá e pra cá, com uma luz marota de fundo. Cenário perfeito para você se aconchegar no  ombro mais próximo para tirar aquela sonequinha indo ou voltando do trabalho. Não tem como impedir que sua cabeça encontre este ombro solitário e enfim vivam uma história de sonolência feliz. Até sonhos rolam. E quando você vê, até boca aberta foi incluída no cardápio. Intimidade que às vezes nem pro seu marido ou esposa é dada. 

Cotoveladas
Sabe quando você está num frescão, daqueles com banquinhos separados por um bracinho acolchoado? Nem lá você estará livre. Quando seu colega é mal intencionado ele vai querer ultrapassar essa barreira e ficar rossando seu cotovelo em você. Não importa quantos catucões no camarada você dê. Ele sempre vai ficar com saudades da sua pele e pronto, encostar seu bracinho em você. 



Sentada na fileira do corredor
Quando estou no corredor a sensação de pior lugar é muito clara. Você fica com seu rosto bem alí na região mais crítica da pessoa que está em pé. Sim, o ônibus lota e as pessoas ficam se jogando em você que está sentado. E seu rosto nunca fica no joelho né. É sempre alí no meio. Você sabe do que estou falando. E ainda por cima encosta no seu braço. Olha, não aguento. Que saudade da janelinha.




Descrevi apenas alguns casos. Sei que você, que assim como eu passa horas em um transporte coletivo, tem muitas outras experiências para contar. Inclua aqui seu caso íntimo, eu vou gostar de saber que não sou a única que fico com essa intimidade toda com meros desconhecidos.


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